Em meio a contemporaneidade emerge um novo saber, uma nova forma de viver, que fora denominada como a Sociedade do Espetáculo, este novo saber e sobretudo forma de viver, se percebe ainda mais por conta de uma rede de comunicações tão inclusiva e horizontalmente social, como é o caso da Internet, tendo em vista que à época em que o filósofo marxista Guy Debord desenvolve seu pensamento acerca dessa forma de viver, em 1967, em um período muito importante para a militância política na Europa pouco antes dos movimentos de 1968, a crítica presente em Sociedade do Espetáculo é clara e concisa para os meios capitalistas de produção, consumo e determinada forma de viver em sociedade, se percebeu com certa infelicidade deixar de ser uma crítica, para ser uma leitura muito expressa do que tem se tornado a sociedade.
Com o momento em que vivemos, percebe-se que se há algo de poderoso na cultura capitalista desde a época da publicação de Sociedade do Espetáculo aos tempos atuais, algo que fazia os poderosos daquela época e dessa se alavancarem ou se prejudicarem, e que cria uma sensação clara de repulsa ou necessidade, é o que entende-se como Publicidade e Propaganda, seja ela de forma socialmente difusa ou não, e é neste aspecto claramente capitalista que surgem algumas das maiores pérolas para o gosto ou desgosto popular, como aquelas propagandas deliciosas de lanches, refrigerantes e afins, que nos induzem dia após dia a reconsiderar a necessidade de uma dieta, ou algumas propagandas mais controversas como a do SBT: “Brasil, ame-o ou deixe-o”, usada na época da ditadura militar e num passado nem tão distante para uma promoção do atual poder político nacional.
Se não se pode negar a influência e principalmente o impacto que campanhas publicitárias tem, jamais se deve desconsiderar que elas visam uma determinada finalidade, a rigor a atração do público e a promoção de seu conteúdo, por mais que algumas vezes o tiro saia pela culatra como é o caso do SBT. O jogo político se insere aí, a defesa de um posicionamento é sempre um tiro pela culatra, pois a partir do momento em que se defende um determinado posicionamento, por nossa sociedade estar muito polarizada politicamente, emissoras de informação, pessoas influentes na sociedade e formadores de opinião sofrem do que ficou popularmente conhecido como “cultura de cancelamento”, bastante usual em redes sociais, isso na verdade já acomete as outras formas de divulgação e disseminação de conteúdo, como é o caso da Emissora Globo, por parte do bolsonarismo, movimento defendido pelo Presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL) , e com ampla aceitação de seus apoiadores.
A respeito da “cultura de Cancelamento”, ela tem, como já dito antes, grande aceitação e disseminação na Internet, onde não são as emissoras televisivas como Globo ou SBT as grandes produtoras de informação e comunicação, neste espaço, as pessoas se tornam mais importantes, portanto são o que nós denominamos de figura pública que causam maior impacto, como pode ser lembrado nas eleições presidenciais, nos Estados Unidos da América ou no Brasil, o papel da Internet e de seus influenciadores foi notavelmente importante para as eleições de Trump ou Bolsonaro.
A propaganda agora surge neste espaço, onde a produção, a participação e o consumo são muito mais massificados, com inúmeros emissores de informação, que representam diferentes nichos de conteúdo, dá a falsa sensação de estar no controle de tudo o que se consome e se dissemina neste espaço.
As mais recentes propagandas do Governo Brasileiro versam sobre a necessidade de uma quarentena defendida pelos mais diversos estudiosos da área da saúde, ou sobre a inscrição aos programas educativos e a sua principal prova, o ENEM, ambas carregam conteúdos e posicionamentos contrários ao que se esperava um país como o Brasil defender, mas como já dito, além dessas propagandas é importante perceber a recepção disso nas outras formas de disseminar conteúdo, as redes sociais na Internet.
Nesses espaços, embora em suma maioria existam defensores dos dois posicionamentos , existem os que os contrariam, mas mais importante do que essas pessoas, são aquelas que são conhecidamente influenciadores digitais, pois estas que tem milhares de seguidores e se posicionam tem um papel de influência direto com estes mesmos, e é neste momento que fica claro o quanto de poder a mais se deu para algumas pessoas, como é o caso da Gabriela Pugliesi.
Gabriela Pugliesi é uma influenciadora digital, que já havia contraído COVID-19 em uma festa de casamento, pouco após isso, e ter sido curada, à mesma época em que nosso presidente ao ser confrontado sobre o número de mortes solta um claro e potente “E daí? Quer que eu faça o que?”, Gabriela Pugliesi reuniu seus amigos em sua casa para uma festa regada à bebidas e muito pouco cuidado, ações que não compactuam com a necessidade do momento e sim com alguns dizeres bem próximos ao do presidente.
Se algo disso tudo se pode tirar como lição é que a Sociedade do Espetáculo se fortificou ainda mais não somente pela propaganda disseminada na Internet, mas também pelo que cada uma dessas pessoas representa, elas deixaram de ser meras pessoas, são marcas, produtos, ditam a forma de vida de inúmeros cidadãos e também são por elas mesmas propagandas ambulantes.
Com tanta importância para a disseminação de conteúdos, de informação e pensamentos, a Internet é o espaço propício para isso e também para se defender e blindar destes problemas, o que pouco se vê em prática, infelizmente, tendo em vista que polarizou-se o fazer político, polarizou-se também esses nichos de influenciadores, a propaganda e a Sociedade do Espetáculo venceram, Trump, Bolsonaro e inúmeros outros fatores comprovam que a necessidade de participar de um movimento social promovido pela Sociedade do Espetáculo são praticamente onipotentes, como por exemplo a defesa dos produtos superfaturados da Apple, Samsung e demais marcas como a Supreme.
A política na Sociedade do Espetáculo nada mais é do que uma super marca, que dita o que as outras marcas produzem, onde vendem e como se propagam, mas acima do poder da política, está a Sociedade do Espetáculo, um poder sem mãos, mas com quase todos os cérebros envoltos.
A publicação deste conteúdo está em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Filosofia, que evocam a “percepção da integração necessária entre a filosofia e a produção científica, artística, bem como com o agir pessoal e político” enquanto uma competência necessária a ser desenvolvida pelos cursos.