Alunos da rede pública sofrem com EaD
Pesquisa aponta que 70% dos jovens sentiram uma piora na saúde mental
Por Enzo Miura e Kensuke Ota.
Após um ano de pandemia no Brasil, milhares de alunos vêm sofrendo com os impactos da reestruturação na rotina escolar. A pesquisa TIC Educação 2019 aponta que 39% dos estudantes de escolas públicas urbanas não têm computador ou tablet em casa, enquanto na rede privada o número cai para apenas 9%.
Para o professor de Filosofia e Sociologia Leandro Sena, a situação atual tem impactado o emocional dos estudantes.
“As escolas eram uma forma de sair de casa, esquecer dos problemas e socializar”, afirma.
Segundo ele, embora alguns alunos tenham se adaptado ao ensino remoto, há casos em que os jovens sofrem com a falta de apoio dos pais e com a perda da liberdade e da privacidade.
O que o professor sente na prática foi identificado em uma pesquisa do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), que aponta que de cada dez jovens entre 15 e 29 anos, sete afirmam ter sentido uma piora no seu estado emocional.
“Muitas crianças vão se sentir atrasadas (…) Se essa criança é retirada desse ambiente [escolar] é muito provável que depois ela vá ter alguns retardos no desenvolvimento”, afirma o psicólogo clínico Wilson Marques.
Wilson cita ainda o caso dos alunos com transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). “Um aluno que tem um TDAH, esse aluno dificilmente vai ficar em frente à tela por mais de 25 minutos, ele vai se distrair”, completa.
O abandono dos estudos também apareceu entre as preocupações durante o período de isolamento. De acordo com a pesquisa da Conjuve, 30% dos jovens pensam em abandonar os estudos, enquanto metade cogita não prestar a prova do ENEM. “[Isso] pode deprimir [o aluno], no sentido de eu não quero mais assistir aula, eu só vou voltar quando retornar ao normal’”, ressalta Wilson.
A estudante Gabriela Jacques, 17, narra a dificuldade de adaptação ao novo modelo.
“No começo foi complicado e o EaD não foi uma boa experiência. Os conteúdos eram passados via Whatsapp, ou seja, não eram aulas online. O aluno era obrigado a procurar por conta própria as matérias na internet”, relata.
Com relação à saúde mental, Gabriela afirma não ter enfrentado grandes problemas. Porém, tem amigos e conhecidos que relataram ter passado ou estar passando por dificuldades nesse momento. Para a estudante, o fato de se sentir mais relaxada em casa e, ao mesmo tempo, conviver com certa pressão dos pais tem provocado embates e lhe trazido reflexões sobre seu papel de aluna durante a pandemia.
Gabriela, atualmente, está cursando o terceiro ano do ensino médio e, apesar de reconhecer que sua escola não está tão bem estruturada ao modelo EaD, afirma ter se dedicado ao máximo aos estudos.
“Espero que tudo volte ao normal o mais rápido possível”, conclui.