Bailes funk se tornam mais frequentes nas comunidades da capital paulista
Eventos dividem a opinião de moradores que vivem nos arredores
Por Brenda de Jesus e Rebecca Mayer.
Moradores da periferia da zona norte da capital paulista buscam lazer em bailes funk, que costumam durar horas nas madrugadas dos fins de semana. No entanto, os eventos são criticados por não frequentadores, que reclamam do barulho e da sujeira. Já os jovens da comunidade alegam ser este um dos únicos modos de diversão no fim de semana. De acordo com o IBGE, o Brasil é o nono País mais desigual no mundo. Por conta disso, as classes sociais sofrem distinções pelo acesso ao lazer.
A Rua Rosalvo, no bairro Jardim Carombé, é reconhecida por ser um ponto de baile funk, o que acaba prejudicando, segundo comerciantes, a abertura de estabelecimentos comerciais. Irece Silva, 45, dona de uma loja de cosméticos, conta que toda segunda-feira altera o horário da abertura do seu comércio, porque precisa limpar a rua em frente.
“Eles fazem muita sujeira nas ruas pela madrugada”, reclama.
O motorista de ônibus da linha Jd Carumbé, Wellington Rodrigues, conta que na madrugada de domingo para segunda o trajeto é alterado. “Por não conseguirmos passar na rua, os passageiros daquele ponto ficam prejudicados”, relata. Segundo ele, as pessoas já estão cientes da mudança, mas ainda não se adaptaram.
Vídeos gravados por uma moradora, que não quis se identificar, mostram o barulho no local. A jovem conta que o baile começa por volta das oito horas da noite de sábado e acaba somente às dez da manhã seguinte. A professora Roseane Alves, 40, reclama que o som alto e a bagunça prejudicam a qualidade do sono e interferem na rotina dos trabalhadores. “Segunda, para chegar no trabalho às 7, preciso dormir com uma amiga. Em casa não dá!”, explica.
Ainda que moradores das proximidades relatam ter suas vidas afetadas, uma vez que os eventos se tornaram um obstáculo significativo para sua rotina, há contra-argumentos por parte dos organizadores e frequentadores desses eventos.
O primeiro deles estaria no fato de que os bailes movimentam a economia da região. João Miguel, 23, tem um carro que adaptou para vender bebidas para os frequentadores. “Minha mãe é aposentada e tenho que trabalhar. E vendo muito por um preço acessível”. Ele afirma que outras famílias também se sustentam com as vendas possibilitadas pelos eventos.
Além do econômico, existem outros fatores que contribuem para o surgimento de eventos dessa natureza. A suspensão de atividades regulares de lazer durante a pandemia resultou na promoção de eventos ilegais e aglomerações em diversos bairros da capital, independente da classe social ou da preferência musical dos envolvidos.
Isabelle Cunha, 19, moradora da comunidade é uma das frequentadoras do baile da região.
“A gente se diverte, mas não gosto quando rotulam que quem vai no baile ‘está perdido’. Eu estudo a semana toda”.
Segundo ela, outras formas de lazer, como shoppings, baladas e shows, não são acessíveis a sua realidade econômica.