Moradia é “privilégio” em Diadema
O município é o terceiro em densidade demográfica no Brasil
Por Heidy Orui.
Atualmente, Diadema abriga cerca de 426.757 pessoas em seu território. O que significa que a cada quilômetro quadrado, vivem cerca de 12.536 habitantes, quase sete vezes mais do que na cidade vizinha, São Bernardo do Campo. A alta densidade demográfica do município é fruto do crescimento desordenado da cidade, que, em 2003, já possuía 207 favelas, segundo dados da Prefeitura.
Desde a fundação da cidade, datada de 1959, Diadema já tinha problemas com as ocupações irregulares e era considerada a periferia de São Bernardo do Campo. Com a vinda de novos moradores, mais comunidades se formaram nos bairros da cidade, que foi indicada como a mais desigual da região do ABC, segundo o Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) de 2018.
Ocupação na Imigrantes
Em 18 de agosto de 2020, houve o despejo de cerca de 64 famílias instaladas irregularmente em um terreno da Ecovias, no quilômetro 19 da Rodovia dos Imigrantes, em Diadema. A ocupação do Jardim Ruyce, iniciada dois meses antes, abrigava uma maioria de pessoas desempregadas e que não conseguiam mais pagar seus aluguéis.
Jucelio Lima, 39, motoboy, morava em um barraco na ocupação com os três filhos e a esposa grávida. A família se mudou para o local após Lima ter seu salário reduzido e não conseguir mais pagar o aluguel do apartamento onde viviam, em São Bernardo do Campo. Pela falta de dinheiro, o entregador teve de vender a moto para levantar os recursos necessários à construção da moradia irregular, que, em menos de 35 dias, foi desfeita.
Assim como Jucelio, Natanae Simões, 23, também sofreu com a reintegração de posse da ocupação no Jardim Ruyce. Casado e com uma filha de um ano e dois meses, o auxiliar de limpeza se preparava para deixar a casa da mãe, onde vivia de favor, quando teve a notícia de que não poderia mais se mudar para o terreno.
“Quando tudo aconteceu, perdemos todo o dinheiro que pegamos emprestado. Tivemos que vender os móveis porque estavam na casa de um amigo e ele precisava esvaziar a casa. Acabamos ficando na minha mãe”, conta.
Vulnerabilidade social
Em outra região da cidade, próximo à favela do Pombal, outra instalação irregular, chamada Canta Galo, abriga famílias em situação semelhante àquela de antigos moradores do km 19 da Imigrantes. Igor Nunes, 20, morador do Serraria e ex-voluntário de uma ONG que atua no local, relata que a ocupação foi formada há pouco tempo e ainda é muito precária, com barracos de madeira que disputam o espaço em meio a passagens estreitas.
De acordo com Gilson Hilário, coordenador da ONG TABEA – Núcleo Social Diadema, instituição em que Igor atuava, 90% das crianças e adolescentes beneficiadas pelo projeto estão em situação de risco e têm algum direito violado. A maioria deles vive em moradias precárias dentro de comunidades e tem como principal fonte de alimentação as refeições oferecidas pela organização. “A gente começou a pensar ‘o que essas crianças estão comendo?’”, relata Gilson sobre a iniciativa da ONG em levar marmitas às casas dos frequentadores do projeto durante a pandemia. O coordenador ainda afirma que o terceiro setor é quem chega às comunidades.
“Não vemos políticos atuando em frentes pela comunidade na pandemia”, conclui.
Segundo a página do vereador Jeferson Leite (PDT) no Facebook, as famílias desabrigadas na reintegração foram cadastradas pela Secretaria Estadual de Habitação para receberem imóveis do Governo Estadual. O comunicado ainda informa que o atual secretário de habitação e desenvolvimento urbano de Diadema, Ronaldo Lacerda (PDT), e o prefeito da cidade, Filippi (PT), continuarão dialogando com o Governo Estadual para que as moradias realmente sejam entregues.