Concessão do Zoo de SP recebe críticas

Opiniões vêm de acadêmicos que temem queda de pesquisa científica

Por Arthur Almeida, Paola Alves e Matheus Santana.

O Zoológico de São Paulo foi concedido,  junto ao Jardim Botânico, ao Consórcio Reserva Paulista, por 111 milhões de reais, em cumprimento ao plano de desestatização que tem sido implementado desde 2018 pelo governador João Doria. O projeto ganhou força este ano sob justificativa de reequilibrar as contas públicas, devido aos gastos bilionários com a pandemia. Mas pesquisadores defendem que a Fundação Parque do Zoológico de São Paulo é lucrativa e não veem os benefícios na concessão.

Para o professor Marcelo Schlindwein, doutor em Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento, e um dos orientadores no programa de mestrado oferecido pela Fundação, a maior desvantagem da concessão é o possível desmonte de programas de pesquisa em conservação.

“Quando você tem a questão do lucro, animais considerados chave para atrair público tendem a ser colocados como prioridade de investimento em detrimento de animais mais importantes para a conservação. Uma administração pública está muito mais alinhada com os objetivos de um zoológico moderno que não tem como foco a atração turística, mas sim a conservação e manutenção da diversidade da fauna e flora”, esclarece Schlindwein.

O Zoológico de São Paulo foi criado em 1957 e, em pouco tempo de funcionamento, se tornou a primeira instituição brasileira a participar ativamente em diversos projetos de preservação de espécies ameaçadas de extinção. Em 1959, adquiriu autonomia administrativa e científica, tornando-se a Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Desde então, a Fundação criou vínculos com renomados centros de pesquisa brasileiros, como o Instituto Butantã, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP).

Seguindo a iniciativa para a preservação, em 2015, foi criado o Centro de Conservação de Fauna Silvestre do Estado de São Paulo (CEFCAU), um centro de pesquisa e formação profissionalizante em parceria com universidades públicas, como a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). O projeto é viabilizado pela bilheteria do Zoológico e Fazenda do Zoo.

“Num primeiro momento, foi dito que a parte de pesquisa não seria afetada, apenas comercializações no zoológico, mas não é isso que estamos vendo acontecer”, ressalta o professor.

Como um dos principais fatores para justificar a concessão, alegou-se prejuízo com a manutenção da Fazenda. “Mas não foi computado, por exemplo, que a Fazenda produz 80% do que o zoológico usa para alimentar os animais, nem os excedentes de comida vendidos. Na minha opinião, isso serve apenas como parte do plano de desmonte do Estado que vivemos no Brasil. A lógica social e ambiental do Zoológico não está alinhada à lógica comercial”, conclui Marcelo.

Procurada, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo não quis se pronunciar sobre o resultado do leilão. Entretanto, afirmou que não se trata de um processo de privatização, mas de concessão. O Consórcio Reserva Paulista, por sua vez, declara que  o conglomerado é a melhor opção de administração para o Zoológico de São Paulo, tendo em vista suas reestruturações passadas, como a do Allianz Parque.

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