Média do auxílio emergencial beira linha da pobreza

Banco Mundial associa vulnerabilidade a renda inferior a 10 reais diários 

Por Carolina Barros Lopes e Jhonthan Oliveira Cruz Cardoso.

Após dois meses da nova rodada do pagamento do auxílio emergencial, 12,8% da população brasileira encontra-se em situação de extrema pobreza, de acordo com pesquisa realizada pela Folha de São Paulo. As alterações dos valores das parcelas refletem em índices de alto desemprego (14,5%) e desigualdade, e o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) avalia o Brasil como 8° pior país em diferença de renda.

Com valor reduzido, a média entre as parcelas fica entre 250 reais, ou seja, aproximadamente 8,30 reais por dia. Os números refletem na sociedade, saindo do âmbito dos dados. Esse é o caso de Jackson Luz, publicitário autônomo, morador do bairro do Jaraguá, extremo norte da capital paulista. Durante a pandemia, ele e sua mãe, doméstica de 64 anos, ficaram desempregados. O benefício, com o valor de 600 reais anteriormente, e uma rede solidária entre amigos fez com que os dois não passassem dificuldades.

No condomínio onde vive, Jackson, mesmo com pouco, participou de vaquinhas para comprar alimentos para os moradores em situação mais precária. Ele revela que sua condição financeira não é das melhores, e é triste ir ao supermercado e não poder comprar certos alimentos. Afirma também que devido à pandemia, problemas psicológicos foram surgindo e, com a redução de cerca de 80% em demandas de seu trabalho, suas contas só aumentaram.

Os casos não são isolados, números levantados pelo IPEA mostram que 220 mil brasileiros se encontram em situação de rua. ONGs estão trabalhando ao máximo para suprir as necessidades da população. A Instituição Obra do Berço, parceria privada e pública, tem como foco principal acolher jovens em situações instáveis, promovendo educação e capacitação para o mercado de trabalho. Com a crise da Covid-19, houve a expansão de amparos, trazendo alimento para aqueles que têm fome.

O professor de cidadania e autonomia na Obra do Berço, Leandro Silva de Freitas, reforça que a situação é precária.

“Aqueles que conseguem o auxílio emergencial do governo, agradecem. Os que não tem esse privilégio, tentam sobreviver recorrendo a outras soluções, como por exemplo, ir aos faróis”, explica.

Leandro acredita que a redução do auxílio evidencia uma desigualdade de classes no Brasil e demonstra uma falta de medidas públicas durante a pandemia.

Katherine Tônus, mãe de 3 filhas, conta ter passado por dificuldades financeiras no início da pandemia. Desempregada, para sustentar a família, realizava “bicos” como garçonete em eventos privados, que foram vetados por conta da quarentena. Ela ressalta que a quantia não garante os direitos mínimos do cidadão perante a constituição: educação, saúde, alimentação, trabalho e moradia. Enquanto isso, os gastos exorbitantes do governo Bolsonaro, como os 15 milhões de reais destinados à compra de leite condensado, são contrastados com a diminuição do poder de compra de alimentos devido à inflação. Com o quilo da carne beirando os 40 reais, o auxílio emergencial não banca 6 refeições completas a seu beneficiário.

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