Projeto promove a formação de jovens com ensino musical gratuito

Linguagem do choro incentiva o conhecimento da música popular brasileira

Por Gisely Sousa.

A Escola de Choro de São Paulo (ECSP) surgiu em 2019 através de quatro músicos: Enrique Menezes, Gian Correa, Henrique Araújo e Rafael Toledo. O projeto atende jovens de 14 a 25 anos e moradores de zonas periféricas, dando prioridade para a inclusão das mulheres nesse cenário, que historicamente é machista.

A iniciativa visa levar o ensino de forma gratuita para as pessoas que não têm acesso a essa variedade musical. Atualmente, as aulas ocorrem de forma remota devido à pandemia da Covid-19. Há cerca de 400 alunos matriculados, de distintas regiões da maior metrópole da América Latina.

O choro é o primeiro gênero musical e instrumental urbano brasileiro. Ele surgiu com a vinda da família real para o Brasil e é resultado da miscigenação da cultura europeia e dos ritmos africanos. Esse estilo cria uma identidade própria de acordo com os costumes do povo. 

“É muito significativo e importante que as pessoas conheçam a nossa cultura e raízes, pois é uma música que o nosso povo criou”, afirma o fundador e professor de violão da ECSP, Gian Correa, 32. Ele atua como compositor, arranjador, produtor musical e violonista de 7 cordas.

O também fundador, coordenador e professor de cavaco da ECSP, Henrique Araújo, 35, diz que “o maior diferencial do projeto é o fato de ser a primeira escola em São Paulo que utiliza essa linguagem como um meio de inclusão social”. O artista é uma referência do cavaquinho e do bandolim no cenário musical.

Henrique afirma que além da inclusão social, a iniciativa abre portas para o mercado de trabalho, pois a escola possibilita que os próprios alunos se tornem professores-monitores, dando aulas para as turmas iniciantes.

“É muito importante salientar que 50% das vagas são destinadas às mulheres”, ressalta a historiadora e musicista, Thais Duque Ribeiro, 30. Ela é uma artista negra brasileira que, em 2019, tornou-se aluna da ECSP e atualmente é professora-monitora de flauta. 

Referente às discriminações que as artistas negras enfrentam, Thais afirma que o preconceito e a falta de oportunidade para a mulher negra é recorrente no Brasil e no meio musical. “Já passei por alguns acontecimentos por não me sentir à vontade em rodas e por não ter a representatividade. Historicamente somos reprimidas e isso traz o medo e insegurança”, relata. 

A musicista diz que a iniciativa acolhe pessoas de diversos níveis na música, havendo uma grande diversificação, e que, graças ao projeto, conseguiu criar um laço maior com a linguagem musical e começou a se sentir mais à vontade nesse espaço. Além de surgirem novas oportunidades, como dar aulas particulares de flauta, pois os alunos sentem confiança no que ela pode ensinar, já que ela está em um lugar com profissionais de reconhecimento. 

O ensino é um diferencial da escola, pois a prática e a teoria possibilitam um fácil entendimento nas aulas. O flautista e estudante, Caetano Silva Farias, 22, é aluno da Escola de Choro de São Paulo. Ele relata que aprendeu profundamente sobre a música, “histórias engraçadas, ritmos, linguagens e contextos relacionados ao choro”, cita.

Os critérios de avaliação para participação das aulas se baseiam em estar cursando ou ter concluído a educação básica na rede pública, local de residência do aluno, condição social e análise da qualidade técnica para enquadramento nos níveis.

As pessoas interessadas em participar do clube de choro devem preencher o formulário disponibilizado no site da ECSP e apresentar um vídeo tocando o instrumento de interesse. As inscrições para as novas turmas abrem no início de cada semestre.

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