Ensino remoto aumenta exclusão de alunos surdos

Dificuldade de comunicação está entre os principais problemas

Por Ana Orfão.

Desde o início do surto da Covid-19 no Brasil, ocorreram muitas mudanças no cotidiano de toda a população, e o isolamento social foi a principal delas. Na educação, estabeleceu-se como alternativa o ensino de forma remota. Entretanto, essa modalidade impactou o aprendizado de alunos surdos, que dependem de aulas visuais e interativas.

Elza Braga, ex-inspetora da rede pública municipal de Diadema, acredita que, ao optarem por essa modalidade, diversos fatores foram ignorados pelos órgãos competentes. Como o cenário de vulnerabilidade socioeconômica, linguística, física e cognitiva dos alunos.

“Consequentemente, ocorre a exclusão dos alunos com deficiência auditiva, o que se torna mais um agravante perante a pandemia”, completa Elza.

Diante dessa situação, a professora de Libras e especialista em educação de surdos Roseli Gonçalves acredita que as principais dificuldades enfrentadas pelos surdos, em relação ao ensino a distância, são o acesso às aulas e a falta de apoio dos pais. “As famílias não têm acesso à internet, e noventa por cento dos pais não têm conhecimento em libras, então não sabem como auxiliar os filhos nas atividades e na comunicação no dia a dia, que é o que também fazemos na escola”, relata a professora.

Atualmente, trabalhando na Escola Municipal Bilíngue para Surdos de São Paulo, Roseli explica como estão sendo as aulas na instituição. “Já usávamos muito a tecnologia nas aulas, antes mesmo da pandemia, mas com os alunos em casa, a atenção deve ser redobrada, é difícil identificar as dúvidas de todos. Gravamos vídeos, fazemos histórias ilustrativas e videochamadas em Libras para o máximo da prática possível para cada aluno”, conclui.

Embora grande parte dos alunos tenham conseguido, ainda que com dificuldades, levar os estudos adiante, o número de alunos surdos desistentes tem  aumentado desde o início do isolamento. “Eles estão achando muito complicada a adaptação, a falta de acesso à internet, além do psicológico de cada um que foi muito afetado”, afirma Odirlei Faria, Pedagogo Bilíngue e dono do Espaço Pedagógico Claudia Nagura e Odirlei Faria para surdos.

A busca por escolas especializadas no ensino para surdos havia diminuído antes mesmo da pandemia, comenta Renata Angélica, vice-diretora da Escola Bilíngue Olga Benário Prestes, em Diadema.

“Os pais estão optando por colocar seus filhos em escolas para alunos ouvintes. Muitos acreditam que, ao escolher essa opção, a fala será desenvolvida. Mas isso só vai atrasar o ensino, visto que a Libras é importante até mesmo para quem não tem toda a audição comprometida”, afirma Renata.

A escola foi fundada em 1988, após a mobilização de pais de crianças surdas que buscavam um ensino mais adequado para seus filhos. Liliane da Silva, mãe de um ex-aluno da escola, afirma já ter pensado como muitos pais pensam atualmente.

“No início, não achava que era aquilo que ele precisava, eu tinha esperança de que no contato com ouvintes ele pudesse começar a falar. Mas foi incrível a oportunidade de conhecer a escola de surdos. Ele desenvolveu mais do que a fala, desenvolveu comunicação. A Libras passou a ter significado para todos nós”, conclui Liliane.

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