Por: Lays Emily
Preto, favelado, gordo e artista. Todos os padrões exaltados como ideais pela mídia brasileira foram rompidos por Alexandre Santana, mais conhecido como Babu! O carioca se transformou em um gigante da audiência televisiva do Brasil ao participar da vigésima edição do reality show, Big Brother Brasil. Aos olhos do público ensinou, emocionou, aprendeu e deu voz a verdadeiros heróis da vida real.
Babu poderia ser um retrato do seu pai, do seu tio ou mesmo alguém que convive com você, e diante de interpretações ilustres em seu currículo, optou por mostrar aos mais de 165 milhões de espectadores, um homem verdadeiro, com suas imperfeições e nuances. Foi o responsável por colocar diante da televisão, espectros da realidade do preto, do morador da favela e de todos aqueles que precisam ir à luta.
Alexandre da Silva Santana, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 10 de dezembro de 1979. Uma época marcada pela transição política para a democracia. Se quando nasceu, a esperança de dias melhores reacendeu para muitos, a trajetória do ator provou que ainda vivemos em um “museu de grandes novidades”. Isso, porque 40 anos depois o filho do morro do Vidigal ainda precisa enfrentar as dores do racismo e da desigualdade social.
Em uma das narrativas mais marcantes da edição do programa aconteceu com a perseguição marcada pelo preconceito, quase que absoluto, dos demais participantes. Em um grupo constituído por blogueiras, jovens da classe média e brancos, a tentativa de silenciar e reduzi-lo foi utilizada como estratégia, pincelada por camadas de má intenção. A resposta de Babu, no entanto, às investidas racistas e ao distanciamento dos demais, acontecia por meio do diálogo e da empatia. Em um tom didático e amigável, oposto à imagem “monstruosa” perpetuada pelas participantes, explicou sobre questões raciais e narrativas da luta preta: “pessoas de pele preta não eram chamadas de negro. Era mouros, africanos, qualquer coisa, menos negro. Negro vem de nigrum, do grego, que é inimigo, e é por isso que eu renego esse nome.”
Em outros momentos, trouxe símbolos de resistência para a discussão: “quando você pega o garfo e abre o cabelo, mostra que o black é a coroa e o pente é a libertação.”
O interesse pelo teatro e pela cultura começou ainda pequeno. Filho de um segurança do Teatro Fênix, onde a Globo gravava alguns programas, teve seu primeiro contato com a encenação nas coxias do palco. Em 1997, começou a atuar com o grupo de teatro Nós do Morro, marco importante eternizado em uma tatuagem do logo da trupe no braço esquerdo. No entanto, ser artista e preto no Brasil sempre foi uma luta. Conhecido e aclamado por interpretar Tim Maia no cinema em 2014, nem sempre pôde contar com o reconhecimento e a notoriedade. Isso, porque a representação do preto no cinema brasileiro é marcada por violência, racismo, invisibilidade, segregação e estereótipos.
Alguns dos personagens vividos por Babu nem sequer possuem nome e sempre estão associados aos estigmas relacionados à população negra. Alguns dos exemplos são: Assaltante de ônibus (Tapas & Beijos, 2011), Homem Mal Encarado (Da Cor do Pecado, 2004), Coisa Ruim (Viver a Vida, 2009) e Traficante de Armas (Guerra e Paz, 2008).
A jornada de Babu na casa, no entanto, provou seu protagonismo. Para muitos, foi escolhido como o “Paizão”, para outros o mestre. Seja qual for o termo utilizado, Babu é um gigante! Se mostrou um homem sábio, humilde, inteligente e consciente. Nas palavras de Tim Maia, “se o mundo inteiro me pudesse ouvir, tenho muito pra contar…”, portanto, escutemos Babu. Escutemos as vozes pretas e suas lutas. Escutemos seu protagonismo. Vidas pretas e suas histórias importam!