Moradores sofrem com restos químicos

Após 23 anos, substâncias da AkzoNobel afetam saúde no Campo Limpo

Por Carolina Lopes e Jhonathan Oliveira.

Nas décadas de 60 e 70, o bairro do Campo Limpo, na zona Sul de São Paulo, possuía grandes indústrias. Uma das mais importantes era a indústria química AkzoNobel, que passou a se chamar Nouryon, fabricante de tintas localizada na Estrada do Campo Limpo. Sua instalação no local trouxe empregos, novos moradores e mudanças em suas vidas. A indústria teve sua unidade do Campo Limpo desativada em 1998, seguida da remoção de equipamentos e da demolição da maioria dos prédios. Depois de inúmeras reclamações e a constatação de irregularidades, a empresa foi alvo de investigações de órgãos governamentais.

Após sua saída, a indústria se alocou no Butantã, zona oeste de São Paulo. Nessa região, com o despejo acidental de solventes aromáticos, um lençol freático foi atingido, o que resultou num processo judicial de indenização pelos danos causados e num inquérito em andamento no Ministério Público de São Paulo (MPSP) por “insuficiência/ineficiência das medidas adotadas pela empresa”.

De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), a AkzoNobel recebeu três advertências pelo terreno do Campo Limpo nos anos de 2004, 2011 e 2016, respectivamente. Embasadas nos pareceres técnicos nº 106/ESCA/04, nº 005/CAAA/11 e nº 026/CAAA/16. A primeira teve como descrição da infração “contaminar o solo em decorrência do exercício de antigas atividades industriais”.

As outras duas foram por “contaminar com metais, benzeno, tolueno, etilbenzeno, xilenos, TPH a área, tornando o solo e águas subterrâneas impróprios ao uso, nocivos ou ofensivos à saúde, prejudiciais à segurança, ao uso e gozo da propriedade, e por não terem atendido integralmente as exigências técnicas constantes”. Segundo residentes, havia muito barulho, principalmente à noite, e a fumaça exalava um cheiro forte e formava névoas e neblinas; enxergavam pouco nas ruas e viviam com as janelas fechadas durante o dia, devido ao odor que ardia os olhos e narizes. “Eu, meu filho e minha filha tínhamos asma e bronquite. Eu só vivia internada”, relata a costureira Josefa Cruz, 76.

“Eu, meu filho e minha filha tínhamos asma e bronquite. Eu só vivia internada”, relata a costureira Josefa Cruz, 76.

“Meu marido trabalhava no setor que o produto fazia mal e só depois de um tempo que eles começaram a usar máscara. O médico disse que hoje ele tem uma tosse crônica impregnada no pulmão dele de 25 anos de trabalho lá”, afirma a dona de casa Maria Oliveira, 71.

Já para Renato Ferreira, 40, oficial de manutenção predial, a vinda da empresa ao bairro foi benéfica.

“Seria hipocrisia da minha parte falar que não foi boa, deu oportunidade para muita gente. Eles até tinha o grêmio que, às vezes, era aberto à população mais carente aqui da nossa quebrada”.

Segundo a CETESB, em 2007 foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o Ministério Público e a indústria, com a aceitação da CETESB, em prol da restauração da área. Desde então, a empresa é obrigada a averiguar o solo e a água subterrânea do terreno, devido a tambores de ferro e plástico que foram enterrados com resíduos industriais.

Para isso, a empresa implantou ações para recuperar o solo e apresenta relatórios constantes que são avaliados pelo Departamento de Áreas Contaminadas da CETESB. A reportagem procurou a AkzoNobel e foi informada de que a gestão atual não tem informações a respeito daquela época.


As notícias publicadas no Canal FAPCOM, tem como objetivo atender o artigo X da Diretriz Curricular Nacional do Curso de Jornalismo, publicada em 27 de setembro de 2013. Ela contempla o artigo 6º., inciso VI, que determina que o projeto pedagógico deve conter conteúdos que atendem ao eixo de prática laboratorial para propiciar conhecimentos e “desenvolver habilidades inerentes à profissão”.


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