Córregos poluídos em Itaquera podem afetar saúde de comunidades pobres
Problema enfrentado durante anos pode trazer mais riscos na pandemia
Por Laís Herrera.
Moradores da região de Itaquera, zona leste de São Paulo, temem doenças com o córrego do Rio Verde poluído a céu aberto. A situação, que já ocorria antes da pandemia, está trazendo mais riscos ambientais e sanitários para a população, principalmente nas favelas e comunidades de baixa infraestrutura. Sem assistência de ONGs ou associação de moradores, a manutenção do rio, feita pela Subprefeitura, muitas vezes acaba sendo insuficiente.
“A gente tem que lavar as roupas, e não tem garantia de segurança”, afirma Regina, 44.
A moradora da favela do Rio Verde conta que as roupas lavadas acabam sendo penduradas em varais ao lado do córrego, que está poluído com embalagens, produtos químicos e até fezes dos animais que passam pelo local.
“Fica mais complicado se proteger do coronavírus quando existem tantas outras coisas pra se proteger, e não tem um espaço limpo”, completa. Segundo ela, esses problemas existem há anos.
A extensão córrego do Rio Verde abriga aproximadamente 2.394 famílias em uma área de 4.500 metros. De acordo com o projeto urbanístico da região (2012), o rio deveria ser tratado antes da Copa do Mundo de 2014. A falta do tratamento de esgotos acaba tornando o local um ponto de proliferação de doenças, agravando a contração da Covid-19. A OMS (Organização Mundial de Saúde) esclarece que, para evitar a propagação do novo coronavírus, a concentração de cloro na água deve ser superior a 0,5 mg por litro com pH 8.
A Subprefeitura de Itaquera publicou, nas suas redes sociais, vídeos do acompanhamento da limpeza do córrego. O objetivo é aprofundar a calha do rio, para evitar alagamentos e retirar resíduos maiores. O projeto se intensificou depois de denúncias de moradores na página oficial do município no Facebook. Dalila, 65, conta que ela e suas amigas foram à Subprefeitura no mínimo cinco vezes no último ano, exigindo mudanças como a construção de lombadas e a limpeza do Rio Verde, mas que a resposta é demorada.
“Não adianta fazer e pedir as mudanças se a população continuar sujando também”, explica Márcia, 32, residente em uma rua ao lado da comunidade.
Ela apontou que outro problema foi a falta de compromisso dos moradores. O corte da grama e a limpeza do córrego já ocorreram outras duas vezes no último ano, porém algumas pessoas continuaram com os despejos na rua.
“Mesmo tendo mais privilégios do que quem mora na favela, a gente também sente o impacto de quem suja”, afirma Márcia.
Uma funcionária da Subprefeitura, que preferiu não ter sua identidade revelada, explica que obras de limpeza como esta foram realizadas várias vezes nos últimos dez anos, mas as pessoas seguem jogando material impróprio nas margens do rio, como lixo e entulhos. Conta que o atendimento telefônico possui ramal específico para córregos, mas que nem sempre a chamada é completada. No momento, os pedidos de acesso à informação do SPObras foram suspensos nos prédios físicos e devem ser feitos online pelo Sistema Eletrônico de Informações ao Cidadão.