Estátuas polêmicas
Borba Gato: homenagem a uma personalidade controversa
Por Thiago N. Santos e Júlio César Marin.
Situado na cidade de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo, o monumento ao bandeirante Borba Gato repercute a celebração de um ícone controverso. Elaborada pelo artista Júlio Guerra, a imponente estátua foi inaugurada em 1962 e tem um total de treze metros de altura.
Manuel de Borba Gato nasceu em São Paulo no ano de 1649. Filho de João de Borba Gato e Sebastiana Rodrigues, consolidou-se como um dos mais célebres bandeirantes, contribuindo na importante expedição chefiada por Fernão Dias que, em busca das sonhadas esmeraldas, descobriu o filão de ouro das minas de Sabará. Faleceu em 1718, aos 69 anos.
A estátua erigida a Borba Gato é uma das várias homenagens prestadas pela cidade de São Paulo a homens que destruíram quilombos e exterminaram povos indígenas pelo caminho que cruzavam.
Em frente ao monumento, o professor de matemática, Fábio Silva, 37, o criticou ao descobrir a origem do homenageado.
“Sei que os bandeirantes cometeram muitas atrocidades com os índios”, comentou.
Alessandro Cerqueira, historiador formado pela Universidade Federal da Bahia, explica que o uso de construções para homenagear esse tipo de figura controversa é usual em sociedades que viveram processos de colonização.
“Não é incomum que os traficantes de escravos sejam lembrados em vez das pessoas escravizadas e suas ancestralidades. Faz parte de um processo de criação de memórias sob o ponto de vista de quem venceu”, disse Cerqueira.
O pesquisador Jacques Ferreira Pinto, doutorando pela UFRJ, também pensa dessa forma. Ele afirma que isso faz parte de um processo de apagamento daqueles indivíduos que sofreram violências. “A exaltação de escravizadores contribui para o apagamento das pessoas que sofreram tais violências e principalmente daquilo que deixaram para trás, como legado, experiências de vida, vivências de liberdade, etc”, completou.
Protestos
Em um movimento crescente de reação, várias intervenções foram feitas nos últimos anos. Uma das mais recentes aconteceu em outubro de 2020, com a pichação com tinta colorida da estátua de Borba Gato. Também como forma de protesto, o Grupo de Ação, que se intitula anticapitalista, posicionou crânios em frente ao monumento bandeirante.
No dia 24 de julho, um grupo de manifestantes cercou a estátua com pneus e ateou fogo. Três homens foram presos, apontados como organizadores do ato.
No dia 10 de agosto, o Tribunal de Justiça de São Paulo revogou a prisão preventiva dos acusados que responderão pelos crimes de incêndio criminoso, associação criminosa e corrupção de menores.
Já na esfera de protestos virtuais, o projeto Salvador Escravista, idealizado por pesquisadores de universidades estaduais e federais do Brasil, busca mapear e explicar a história de monumentos controversos. E, ao mesmo tempo, exaltar os que tentam trazer à tona uma menor desigualdade histórica entre as vítimas e seus algozes.