Moradores da Vila Maria Zélia tentam preservar a história operária de 1917

Residentes relembram as convivências em vila histórica da cidade de São Paulo

Por Thiago N. Santos e Júlio César Marin.

Boa parte das Vilas na cidade de São Paulo foram construídas pelos donos das instalações para hospedar os trabalhadores de suas indústrias. A Vila Maria Zélia é uma delas. Localizada no centro do Belenzinho, zona leste, foi inaugurada pelo médico e empresário Jorge Street em 1917.

Com mais de 100 anos de história e marcada por sua arquitetura, a Vila tem esse nome em homenagem à filha do médico, Maria Zélia Street, que faleceu em 1915, dois anos antes da sua inauguração. 

Hoje são poucas fachadas que ainda permanecem com a arquitetura original. Algumas casas antes só térreas, agora possuem dois e até três andares. O presidente da Vila, o auditor Jemison Farias, 44, conta sobre o impasse que o local sofre em razão do seu processo de tombamento e das reformas anteriormente realizadas.

“As mudanças já tinham sido feitas quando o INSS interditou e tombou os prédios da Vila, eles queriam que nós desfizéssemos as reformas, um absurdo. E, desde então, recorremos judicialmente”, afirma.

Após a interdição em 1992, os moradores convivem em volta de construções com risco de desmoronamento.”[Tal situação] é muito triste, e é um processo muito demorado”, conta Jemison. Além dos problemas que caracterizam a histórica Vila Operária, Jemison ressalta sua importância social. “Todo ano fazemos festa junina. Você vê aquelas 20, 30 senhoras com 70, 80 anos fazendo caldo verde”, relata. Segundo ele, nisso residiria a verdadeira essência da Vila: um ambiente familiar, seguro e acolhedor. 

Maria Isabel Farias, 12, é uma das moradoras mais novas do local. Ela disse compreender que vive em um lugar inusitado.

“A sensação de viver em um ambiente histórico é diferente. Os prédios, as muretas e a estrutura ainda estão conservadas, e ainda é um lugar seguro”, comenta.

A irmã mais velha de Isabel, Maria Luiza Farias, 16, diz que aprecia observar em seu cotidiano imóveis históricos. Ela conta que, ainda que tombadas, muitas construções perderam algumas de suas características principais. Porém, há prédios, como a Capela São José, que ainda conservam sua arquitetura original.

Por se tratar um ambiente antigo, a vila possui muitos idosos. “Meus amigos dizem que sou uma vereadora, conheço todo mundo. É bom dia dona Neusa, dona Cecília”, conta Luiza que, por residir no local desde criança, tem amizade com todos os moradores.  Atualmente, buscam manter um senso de comunidade como aquele de 1917. O local, que antes possuía açougue, escola, farmácia e até mesmo um espaço para baile, hoje conta apenas com sua tradicional festa junina. Momento em que crianças, jovens e adultos aprendem a conviver e compartilhar com seus vizinhos.

A Vila compreende cerca de 420 moradores, nas suas 180 casas, e conta com 5 funcionários. Há livre acesso para visitação aos prédios e, até mesmo, às residências dos moradores.

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